segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

ESTOU VERDE DE VERGONHA





Hoje vamos interromper a interação sobre o assunto central para falarmos sobre o desmatamento na Amazônia.
Morei em Manaus por quase 10 anos e percebi que a cidade foi construída de costa para o rio. Eu somente conseguia visualizá-lo da janela do meu apartamento na Getulio Vargas, porque ficava no 15 andar.

Eu não entendo o povo da floresta.

Vejo manifestações no mundo inteiro, até um menino dando depoimento na Índia e não vejo um único protesto do povo da floresta.
Será que viver em Manaus, Belém, Boa Vista, Macapá, Ji Paraná, Maués, Santarém e daí por adiante difere de alguma forma o viver na Amazônia?
Onde esta o povo da floresta?
Ou será que a floresta não tem um povo?

A definição jurídica de Povo é conjunto de habitantes com características de cidadão e cidadania.

Devemos então discutir a floresta com o mundo e entender que a questão é em primeiro lugar um assunto global e depois um assunto do povo da floresta?
Se assim for prefiro o discussão que é ensinada em escolas dos Estados Unidos e Europa que definem a Amazônia como uma zona de interesse mundial sem soberania deste ou daquele pais.
Porque soberania envolve responsabilidade e o povo só tem soberania quando pode defendê-la, se opor a qualquer agressão, intervenção. O desmatamento não fere a sua soberania?

Onde esta o povo da floresta?

Como disse anteriormente, morei em Manaus por quase 10 anos, e não percebi a época o tal espírito do povo da floresta. O assunto nunca esteve presente na pedagogia das escolas alem de um total desconhecimento do povo no que diz respeito a fauna e flora e a importância deste território.

Será que a floresta tem um povo?
Está na hora dessa gente olhar a floresta de frente.


4 comentários:

Maestro Everaldo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Maestro Everaldo disse...

Camarada, penso que nós temos um problema antropológico de subserviencia, induzido pelos povos que nos colonizaram aqui. Primeiros os portugueses, depois os os ingleses, holandeses, franceses e por ultimo os americanos. Nestes 339 anos ainda nao saimos desse provincianismo. Uns poucos bravos "ajuricabas" estão conscientes disso, entretando a midia de massa alienante continua nos induzindo de que a vida é assim mesmo, resta a nos esperarmos o proximo redentor...

Adelson Santos disse...

AS CONTRADIÇÕES CULTURAIS CLOROFÍLICAS

De - Adelson Santos


Embora ainda não tenha dados científicos para provar minha tese, porém, cada vez mais me convenço de que existe na selva um elemento químico dotado de força eletromagnética que interfere no cérebro, na atitude e na ética do cidadão amazonense. É um pigmento que dá cor verde as plantas e que tem em abundância na selva: a clorofila que, por sua vez, pode ser uma clorofila do bem ou do mal.
Quanto à clorofila do bem, sua principal função é fazer a fotossíntese em presença da radiação solar, ou seja, transforma o dióxido de carbono em oxigênio. Alguns estudos científicos apontam a clorofila do bem como purificador do sangue, detergente do corpo, digestivo, revitalizador da pele e neutralizador de toxinas no organismo. É ainda eficiente no combate a caspas e evita o embranquecimento dos cabelos, previne cáries dentárias, cura problemas de garganta e infecções vaginais, e normaliza a fluidez do intestino.
Quanto à clorofila do mal, devido às conexões químicas com as regiões azuis e vermelhas do espectro eletromagnético (nada a ver com Garantido e Caprichoso), acho que, de um lado, acaba afetando o lado direito e o lado esquerdo do cérebro, ou seja, as funções lógicas e artísticas; e de outro, acaba gerando a anti-civilização selvagem que se estrutura num corpo social, político, econômico e cultural com uma originalidade primitiva radical. Anticivilização que nega os princípios do racionalismo cartesiano, as certezas da lógica positivista, e resgata o idealismo socrático e sua principal variante: o transcendentalismo cristão e suas bias ideológicas.
Por conta disso, o que se vê por aí em todas as esquinas da cidade são os sintomas da psicopatologia onde se troca o verdadeiro pelo verossímil, se prefere o simulacro ao invés do autêntico, e devido aos excessos da clorofila interferindo no cérebro, se tenta fazer da simulação e da pantomima o princípio da História e do mundo. E sendo assim, surge o batalhão dos mágicos querendo provar que podem transformar o mundo dispensando o conhecimento racional e científico; o batalhão dos místicos com seus discursos teias ludibriando a manada e os pobres de espírito que dela fazem parte, com a promessa de felicidade absoluta no futuro e, geralmente, depois da morte.
Na anticivilização selvagem movida à clorofila, em cada esquina da cidade existe um malandro à espreita de um otário. É onde proliferam, feito ervas daninhas, os gênios da “intelectualidade cascateira”, especialistas em “discursos blablablá”, contadores de histórias travestidos de cacarejadores midiáticos que vivem engrolando a multidão solitária, analfabeta e alienada; multidão feita de invisíveis caminhantes na procura do Ser ou do Nada, sempre circulando na periferia e sonhando com os lazeres do capitalismo.
E pra engrossar o caldo da anticivilização selvagem, aparecem os políticos profissionais, todos farinha do mesmo saco e vinhos da mesma pipa - com exceção dos éticos redundantes que não resolvem absolutamente nada no contexto histórico - sempre com suas retóricas cínicas e falaciosos, prometendo um futuro bem-estar material que nunca chega, enquanto fazem do presente um tempo de tramóias e sujas negociatas nos bastidores do poder para atender as suas bases, na desgastada política do “é dando que se recebe”. Enquanto isso o povão mesmo, aquele da periferia em qualquer sentido, só fica mesmo com as esmolas e migalhas do poder da hora. Em troca recebe educação de quarto mundo, tratamento de saúde pelo chão dos hospitais públicos, balde de violência jogada na cara a todo instante em qualquer esquina da cidade.
Pensando bem e falando sério, o povo só serve mesmo pra eleger político oportunista e bandido. Depois que os canalhas corruptos chegam ao poder, tenho a impressão que eles ficam falando assim pro povo: “adeus povo, até a próxima eleição bando de idiotas”.
E no meio dessa esbórnia generalizada entram alguns Juizes e Desembargadores com as suas anacrônicas poses de vestal, de homens da lei, de homens justos, conspurcando a sagrada instituição do direito e da justiça com a venda de liminares para quadrilhas de políticos, ladrões, bandidos, e traficantes de todos os matizes.
E para fechar o círculo da anticivilização movida à clorofila temos o Executivo transformando o Estado Republicano em propriedade privada para loteá-lo entre parentes e apaniguados, antigos hábitos herdados dos patriarcas de Casa Grande e Senzala e dos filhos, netos e bisnetos de D.João VI.
Com doses excessivas de clorofila do mal no cérebro, o individuo pode atingir estágios irreversíveis de falsas interpretações da realidade, ou seja, de delírios clorofílicos. Desta fase em diante, o cérebro do sujeito clorofilado pode ter alucinações psicóticas e começa a enxergar macacos zebrados, índios subindo o Rio Negro montados em jacarés, curupiras subindo em Castanheiras, mula com duas cabeças, Saci-Pererê de cor verde, botos vestidos de paletó e gravata dirigindo barcos a jato pelos rios da Amazônia. Em razão das tais alucinações psicóticas começa a sentir, de um lado, os sintomas da anorexia, da bulimia, e de outro, é atacado pela síndrome do comedor seletivo, do comedor compulsivo e do comedor noturno de farinha, feijão, carne seca e sanduíche de tucumã regado a catchup, sem esquecer da necessidade de mastigar mais de cem vezes antes de engolir qualquer alimento que põe na boca. Em surtos mais profundos começa a ver fantasmas de Wagner, Mozart, Beethoven no Teatro Amazonas em época de Festival de Ópera, ouvir Matintaperera cantar uníssono em noite de lua cheia e Orquestra Filarmônica tocar música erudita no meio da mata. Num viés histórico começa a psicografar textos enviados pelo tuxaua Ajuricaba, agora transfigurado no mestiço da vila, convocando o povo para a Jihard Clorofílica que consiste, fundamentalmente, em vender produtos para emagrecimento da Erba Life.

Atenção gente. Temos que vigiar a clorofila de perto. Eis a seguir algumas provas concretas para desconfiar da clorofila do mal:

1) Nos centros mais “civilizados” do Planeta como, Nova York, Londres, Tóquio, São Paulo, Rio de Janeiro, etc. a gente pode observar que não tem matagal nenhum para produzir clorofila.
2) Nossos índios foram todos dizimados pelos colonizadores quando aqui chegaram. Desconfio que é por que eles estavam todos envolvidos pela química e pelo eletromagnetismo da clorofila.
3) Em Hiroxima e Nagasaki, onde foram jogadas as bombas atômicas na segunda guerra mundial todas as árvores foram dizimadas. Foi a partir da segunda guerra que o Japão alcançou o status de potência econômica mundial. Será que é por falta da clorofila na área que os japoneses ficaram mais inteligentes do que sempre foram? Na verdade, em Tóquio, a capital do Japão, também não tem nenhum matagal pra gerar clorofila.
4) Acabo de descobrir um grande perigo espalhados pelos bosques da UFAM (Universidade Federal do Amazonas): é que todas as colunas de sustentação dos blocos de sala de aula são pintadas de verde. O excesso de tinta verde artificial misturada com o verde da clorofila do meio ambiente, provavelmente está interferindo na intelectualidade e criatividade dos nossos artistas. Temos que mandar pintar urgentemente tudo com a cor amarela, que é a cor que ajuda a reter conhecimentos, desenvolve a sabedoria, traz alegria, e ajuda na cura da artrite. Para músico então é ótimo porque musico vive sempre com artrite na coluna e na ponta dos dedos.
5) Um amigo meu resolveu fazer uma tese de mestrado sobre a Pedagogia de Piaget nas escolas de Manaus. Pra sua surpresa, logo nos primeiros passos da sua pesquisa de campo, ele já descobriu que em Manaus, foi o único lugar do Brasil que a metodologia piagetiana não funcionou. Segundo suas pesquisas ele está chegando à conclusão que o fracasso do método foi porque as escolas estavam cobrando muito caro pela mensalidade. É possível que isto faça sentido. Mas, por via das dúvidas, eu sugeri pra ele renovar suas pesquisas pra ver se não havia nenhuma porção da clorofila do mal interferindo na decadência piagetiana nas escolas de Manaus.
6) Manaus é uma cidade que fica localizada na frente de um dos maiores rios do mundo e até hoje, em pleno terceiro milênio, o problema da água encanada não foi resolvido. Isto é mais um grave sintoma de que a clorofila do mal está interferindo na cabeça dos gênios da nossa engenharia hidráulica.


A dúvida está no ar. É bom se ligar na parada da clorofila porque todo esse pessoal que está por aí metendo a cara em programa de televisão com cacarejadas dogmáticas e pragmáticas para salvar a Amazônia, no fundo no fundo, só estão mesmo é fazendo pose de “defensores” do clima e da natureza. Não obstante, eles até podem estar mesmo querendo a mata viva, porém, desde que vivam bem longe dela. Com certeza sabem dos poderes da clorofila, principalmente da clorofila do mal.





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Adelson Santos – é professor de música da UFAM, da UEA, Ex - Regente Titular da Orquestra de Violões do Amazonas, e atualmente é Regente Titular da Orquestra de Vozes da UFAM

Adelson Santos disse...

“EU TENHO ORGULHO... DE SER AMAZONENSE”

De Adelson Santos (12/2008) *

O filósofo Platão classificava os artistas de dois modos: os apologistas, ou seja, aqueles que exaltavam as qualidades da república, e os “amolecedores dos costumes” que, ao contrário, denunciavam as mazelas da mesma república. Para os apologistas, Platão ofertava os lazeres do ócio republicano. Para os “amolecedores dos costumes”, ele mandou jogar fora da cidade, igual como fez Mao Tse Tung na sua deletéria revolução cultural para implementar o comunismo na china.
Está passando na televisão um vídeo onde alguns artistas famosos do reino da clorofila, aparentemente felizes, alegres e sorridentes, cantam a pleno pulmões: “eu tenho orgulho... de ser amazonense... eu tenho orgulho... de ser amazonense”. Que lindo. É difícil de ver e ouvir isso, ou seja, amazonense falando bem de Manaus ou do Amazonas. Na verdade, acho muito bonito cantar que a terra onde a gente nasceu é a melhor do mundo. É uma prova de afeto dos grandes. Mas pra que isso aconteça, ou seja, pra você propagar que ama a terra onde nasceu, é preciso que esta terra ofereça condições sociais, culturais e econômicas para que todos se sintam bem e felizes. Quando digo todos, estou me referindo ao sentido literal da palavra, ou seja, absolutamente todos, e não apenas para “os de cima” e mais uma dúzia de artistas apologistas cantando aparentemente felizes, alegres e sorridentes: “eu tenho orgulho... de ser amazonense”.
Acho que Manaus com todos os delírios de parecer que é uma cidade cosmopolita e civilizada, habitada por um povo cordial que trata bem os que chegam de fora, pra mim nada disso me incentiva nem a cantar, como fazem os artistas apologistas, e nem elogiar Manaus como uma cidade agradável para se viver. E além do mais, acho a propaganda feita pelos apologistas, enganosa e alienante, daquelas que tentam transformar uma mentira em uma grande verdade. E toda vez que toca a tal música na televisão com os artistas sorridentes, imitando aquele célebre jingle “We Are The World”, enfim, eu fico me perguntando se os artistas apologistas acreditam mesmo naquilo que estão cantando, ou se apenas estão representando e pondo suas vozes à serviço da propaganda enganosa, simplesmente para faturar o leite das crianças com a mixaria paga pelo Estado pelo trabalho de cantar no jingle.
Sinceramente, bem que gostaria de propagar da mesma forma o meu amor por Manaus e de ter orgulho por ser amazonense. Gostaria mesmo, de verdade. Entretanto quando vejo em propaganda de outdoors espalhados pela cidade que os tataranetos de Ajuricaba estão sendo iludidos “pelos de cima”, com as ilusórias e redundantes promessas de que estão construindo o futuro (é bom lembrar que esse negócio de construir o futuro é só pra enganar “os de baixo” porque pra eles, “os de cima”, estão todos é curtindo o presente da “dolce vita” clorofilada). Quando vejo os mestiços da aldeia recebendo educação de terceiro mundo, ou seja, a famosa educação dos excluídos, prontos para virar lixo humano na primeira curva do rio; morrendo pelos corredores dos hospitais por falta de leito e de médicos; apanhando sol e chuva em paradas de ônibus (isso quando tem ônibus); vivendo sobressaltados em tempo de chuva pelas enchentes dos igarapés que “os de cima” invadem as margens para construir suas casas em condomínios de luxo; saindo de casa cinco horas da manhã para trabalhar no distrito industrial e voltar sete horas da noite para depois ganhar um salário de fome no final do mês, sinceramente, tudo isso me deixa de língua travada para dizer que “eu tenho orgulho de ser amazonense”.
Quando entro numa de flanar pelas ruas de Manaus - na verdade esgotos a céu aberto - e vejo assaltantes perseguindo e roubando pessoas de bem em frente de casa em plena luz da manhã; filinhos de papai estacionando seus Hilux e Hiunday do ano em fila dupla impedindo o trânsito de fluir normalmente (cadê o DETRAN que só serve para incentivar a indústria de multas); flanelinhas com cara de fome pedindo pro “patrão” um troco pra comprar um prato de comida. Quando vejo na mídia os mesmos e antigos políticos medíocres enganando o povo com seus discursos teias, seduzindo com falsas promessas os pobres corações amantes do nosso Brasil, ofertando um quilo de feijão, uma receita médica ou uma bolsa família em troca de voto (isso pra não falar de outras canalhices e sujeiras mais abrangentes que as TVs escancaram nos noticiários todos os dias), sinceramente, se eu tivesse sido convidado para cantar: “eu tenho orgulho... de ser amazonense”, com certeza jamais entraria nessa presepada. Primeiro por ser uma propaganda enganosa feita para iludir e ludibriar os pobres corações amantes dessa coisa indefinida, enigmática e mal resolvida chamada Manaus. Segundo porque isso contraria minha consciência artística, nega minha integridade profissional, e perturba o pouco de lucidez que consegui preservar, com bastante esforço, junto com a minha dignidade de cidadão.





* Adelson Santo é professor de música na Universidade Federal do Amazonas
Tel: 32364960 // 99919237
Air Mail: santosadelson@hotmail.com